O Dia do Trabalhador, celebrado em 1º de maio, é tradicionalmente um momento para homenagear aqueles que constroem o país com seu esforço diário.
No entanto, também deve ser uma oportunidade para refletirmos sobre as condições em que esses trabalhadores exercem suas funções, especialmente no que diz respeito à saúde mental.
Em um cenário onde o adoecimento psicológico se torna cada vez mais frequente nos ambientes corporativos, é urgente reconhecer os sinais de exaustão emocional, sobrecarga e sofrimento psíquico.
Mais do que nunca, falar de trabalho é também falar de cuidado, acolhimento e políticas públicas que garantam ambientes laborais saudáveis.
Visão geral do problema
Os afastamentos do trabalho por transtornos mentais e comportamentais atingiram níveis recordes no Brasil em 2024, consolidando uma crise de saúde mental entre trabalhadores.
Dados oficiais do Ministério da Previdência Social indicam que em 2024 foram registradas 472.328 licenças médicas devido a transtornos mentais – o maior número da história, representando um aumento de 68% em relação a 2023.
Esse crescimento acentuado reflete uma tendência de agravamento da saúde mental no ambiente de trabalho que já vinha sendo observada na última década.
Em dez anos, o número de afastamentos dobrou, passando de cerca de 221 mil casos em 2014 para 472 mil em 2024.
As consequências são significativas: além do impacto na qualidade de vida dos trabalhadores, esse fenômeno acarreta perda de produtividade, aumento de custos para a Previdência e alerta para a necessidade de ações de prevenção e cuidado em saúde mental no trabalho.
Perfil dos Trabalhadores Afastados
A crise de saúde mental no trabalho atinge diversos setores e perfis, mas as mulheres aparecem como maioria dos casos.
Em 2024, cerca de 64% dos afastamentos (301.348 licenças) foram de trabalhadoras do sexo feminino, enquanto os homens responderam por 170.980 afastamentos.
A idade média dos trabalhadores afastados ficou em torno de 41 anos. Geograficamente, os estados mais populosos lideram em números absolutos de licenças: São Paulo registrou o maior volume (125.141 casos em 2024), seguido de Minas Gerais (65.420) e Rio de Janeiro (31.660).
Entretanto, ao considerar o tamanho da população, destacam-se Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul como as unidades federativas com maior proporção de afastamentos por transtornos mentais em 2024.
Números de Afastamentos em 2024
O ano de 2024 apresentou um salto expressivo nos afastamentos por transtornos mentais entre trabalhadores brasileiros.
O país contabilizou 472.328 afastamentos do trabalho motivados por transtornos mentais ao longo de 2024.
Trata-se do maior patamar já registrado, configurando um recorde histórico em licenças por problemas de saúde mental.
Esse volume impressionante equivale a aproximadamente 1.294 trabalhadores afastados por dia, em média.
Para efeito de comparação, estimativas indicam que em 2023 o total de afastamentos por tais transtornos girou em torno de 280 mil casos.
Portanto, o salto para 472 mil em 2024 representa um aumento de 68% em relação ao ano anterior.
Indicador (Brasil) | 2014 | 2023 (est.) | 2024 |
---|---|---|---|
Afastamentos por transtornos mentais | 221.721 | ≈280.000 | 472.328 |
Variação em relação ao ano anterior | – | – | +68% |
Participação de mulheres nos afastamentos | – | ~63–64% | 64% |
Tabela 1: Evolução do número de afastamentos do trabalho por transtornos mentais.
Principais Causas dos Afastamentos (2024)
Os transtornos de ansiedade e os quadros depressivos despontaram como as principais causas de afastamentos do trabalho por motivos de saúde mental em 2024.
Transtornos de ansiedade lideraram com 141.414 casos registrados, tornando-se o motivo individual mais frequente de licenças psiquiátricas.
Logo em seguida, os episódios de depressão aparecem como a segunda causa mais comum, totalizando 113.604 afastamentos no ano.
Outros transtornos também contribuíram de forma significativa:
- Transtorno depressivo recorrente: 52.627 afastamentos.
- Transtorno bipolar: 51.314 licenças.
- Reações ao estresse severo e transtornos de adaptação (como burnout): 20.873 afastamentos.
- Transtornos por uso de substâncias psicoativas (drogas ilícitas): 21.498 afastamentos.
- Alcoolismo: 11.470 afastamentos.
- Esquizofrenia e outras psicoses: 14.778 afastamentos.
Ansiedade e depressão são as principais causas, mas outras condições de saúde mental também contribuem significativamente para os afastamentos.
Tendências e Crescimento
Entre 2014 e 2024, o número anual de afastamentos por transtornos mentais mais que dobrou. Em 2014, foram cerca de 221,7 mil afastamentos; em 2024, esse número chegou a 472,3 mil. Grande parte desse aumento ocorreu após a pandemia de COVID-19.
Os transtornos de ansiedade, por exemplo, saltaram de 32 mil em 2014 para 141 mil em 2024 – um crescimento superior a 400%.
Já os afastamentos por depressão praticamente dobraram no mesmo período.
Em 2025, embora ainda não haja dados consolidados, autoridades estimam que os números podem ultrapassar os de 2024 caso nenhuma medida efetiva seja tomada.
Setores e Populações Mais Afetados
De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, atividades de teleatendimento (call centers e telemarketing), o setor bancário e os estabelecimentos de saúde estão entre os segmentos com maior incidência de problemas de saúde mental ocupacional
- Teleatendimento (call centers, telemarketing)
- Bancos
- Estabelecimentos de saúde
Outros grupos vulneráveis incluem:
- Profissionais da educação
- Segurança pública
- Profissionais da saúde
Mulheres são mais afetadas (64% dos afastamentos), possivelmente devido à sobrecarga de tarefas, desigualdade e maior propensão a buscar atendimento médico.
Medidas e Iniciativas (2024-2025)
- Atualização da NR-1 (Norma Regulamentadora 1): A partir de maio de 2025, todas as empresas devem avaliar riscos psicossociais como parte da gestão de segurança e saúde no trabalho.
- Lei 14.831/2024: Criação do Certificado de Empresa Promotora de Saúde Mental, para companhias que adotarem boas práticas de prevenção e cuidado.
- Campanhas de Conscientização: O Ministério da Saúde reforçou em 2024 a importância do cuidado com a saúde mental no ambiente laboral.
- Observatórios e Pesquisas: Instituições como o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab) e universidades têm monitorado os indicadores para embasar políticas públicas.
Considerações Finais
O ano de 2024 marcou um recorde no número de afastamentos do trabalho por transtornos mentais no Brasil, impulsionando mudanças urgentes em políticas de saúde e segurança no trabalho.
O cenário para 2025 ainda é incerto, mas a implementação de medidas como a fiscalização obrigatória de riscos psicossociais e incentivos à saúde mental nas empresas pode ajudar a reverter a tendência crescente de adoecimentos.
Fontes utilizadas:
- Ministério da Previdência Social
- Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab)
- Agência Brasil
- Ministério do Trabalho e Emprego
- Lei 14.831/2024
- Ministério da Saúde
- Pesquisas acadêmicas e institutos de saúde coletiva