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A pandemia fez alterar os hábitos de consumo de droga? Um descodificador

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Logo no primeiro confinamento, em março e abril do ano passado, assistiu-se a uma escassez de substâncias ilegais devido à perturbação das vias de abastecimento. Traficantes de cocaína aproveitam a massificação das entregas ao domicílio

1. O CONFINAMENTO FEZ DIMINUIR O CONSUMO?

Não de forma drástica, mas tem causado sérias perturbações no mercado de abastecimento. Recentemente, João Goulão, presidente do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), revelou que logo no primeiro confinamento, em março e abril do ano passado, se assistiu a uma escassez de substâncias ilegais devido à disrupção das vias de abastecimento do mercado, nomeadamente por via aérea.

2. O PREÇO DAS DROGAS AUMENTOU?

A lei da oferta e da procura funcionou com a pandemia. “Estas substâncias tornaram-se mais raras e mais caras”, anunciou Goulão aos deputados quando apresentou os últimos relatórios sobre droga e álcool do SICAD. Já Luís Patrício, médico psiquiatra e especialista em estupefacientes, revela que em Lisboa os preços da canábis duplicaram. A cocaína baixou de qualidade e a de maior qualidade terá aumentado de preço. Nos Açores aumentou o preço dos comprimidos de rua.

3. HÁ UMA ‘UBERIZAÇÃO’ DAS DROGAS?

Sem dúvida. É um fenómeno que se iniciou antes da pandemia e disparou com o confinamento e com a lógica das entregas ao domicílio. “Existe uma ‘uberização’ das drogas. Na internet há de tudo, para todos os gostos. Qualquer pessoa pode receber em casa pacotes descaracterizados com droga, que são difíceis de detetar pelas autoridades”, afirmou Goulão ao Expresso no final de 2019. Luís Patrício afirma que, na capital, a entrega de cocaína ao domicílio tem ganhado importância.

4. COMO SOBREVIVEM OS ARRUMADORES?

Os consumidores de droga mais viciados e com menos poder económico perderam algumas das suas fontes de financiamento nas economias precárias desde o início da pandemia. O fluxo de carros e de pessoas em direção às grandes cidades diminuiu drasticamente, “deixando de ser possível haver a atividade de arrumador ou o pequeno tráfico de rua”, frisou João Goulão. Em consequência, registou-se uma aproximação significativa desta população aos serviços de redução de danos.

5. QUAL FOI A DROGA QUE MAIS DESCEU?

De acordo com Luís Patrício, foram as drogas ditas de baile, usadas nas festas, como o ecstasy e as drogas alucinogénicas. Como as discotecas estão encerradas por causa da pandemia (e as festas ilegais são muito fiscalizadas), a propensão para os consumos deste tipo de produtos tendeu a decair. “Muitas pessoas compram pela internet o que pensam ser MDMA e LSD, mas sem qualquer garantia”, alerta o ex-diretor do Centro de Recuperação das Taipas, em Lisboa.

6. O QUE DIZ O ÚLTIMO RELATÓRIO DE DROGA?

Os dados do relatório do SICAD são relativos a 2019 mas revelam algumas tendências dos últimos anos. Mostram que o consumo de drogas está a subir entre as camadas mais jovens da população. E há três anos consecutivos que o número de overdoses tem aumentado. Existe uma maior circulação de drogas no mercado nacional, explicadas pelo crescente uso da internet, por alterações ao nível da produção de canábis e pelo papel do país nas rotas do tráfico internacional.

Fonte: Expresso.pt