A ausência de um divã na sala e o clima descontraído entre o terapeuta e os pacientes são peculiaridades das sessões de terapia para grupos de adolescentes oferecidas pelo Núcleo Integrado, no Recreio. No bate-papo, que à primeira vista parece casual, são discutidos problemas e questões comuns ao universo infantojuvenil, envolvendo desde a prevenção ao uso de drogas lícitas e ilícitas até as relações interpessoais e os cuidados com a exposição na internet. Os temas são abordados em atividades como exibições de filmes seguidas de debate e encenação de peças.
Psicóloga e diretora do espaço, Ana Café, especializada no tratamento dos Transtornos do Controle do Impulso (TCI) e na prevenção do uso de drogas, diz que os terapeutas vão construindo a sessão a partir das experiências compartilhadas, que geram discussões sobre os problemas e a melhor maneira de enfrentá-los:
— O trabalho quer fazer com que eles reconheçam valores fundamentais em um processo de convivência, como compaixão e empatia. É legal ter espaço para lidar com os diferentes temas em um grupo da mesma faixa.
Crianças e adolescentes são separados de acordo com a faixa etária: de 9 a 11 anos, de 11 a 13 e de 13 a 18 anos. Para deixá-los à vontade, nenhum adulto além dos terapeutas participa, e irmãos ficam em turmas separadas. Antes do início do tratamento, a família e o jovem paciente passam por avaliação para identificar se seu perfil é adequado a sessões em grupo. Casos de dependência química, por exemplo, são tratados individualmente.
Quando a estudante Bruna Lisboa Martins de Souza, de 14 anos, chegou ao espaço, há dois anos, era vítima de bullying na escola. As provocações e até agressões físicas vinham de alunos da mesma sala e duraram cerca de três anos.
— As meninas na minha sala não gostavam de mim. Uma delas jogou um apagador na minha cabeça e a escola não fez nada. Falei com a psicóloga de lá e o diretor me apontava como culpada. Minha mãe quis me tirar da escola, mas eu disse que não queria sair — conta.
Adriani Lisboa Martins de Souza, mãe de Bruna, tentou dialogar com o colégio, mas não adiantou. Ela procurou o Núcleo Integrado porque a filha estava com baixa autoestima e não conseguia mais assistir às aulas.
— O meu medo foi tirar a Bruna da escola e ela ficar com a impressão de que era a causa do problema. Cheguei a ir à delegacia fazer boletim de ocorrência. Mantive-a no colégio esperando que a direção resolvesse o caso ou ela reagisse, para não sair de lá com sensação de fracasso — diz Adriani.
Segundo a psicóloga Ana Café, o bullying na escola é um dos problemas que mais levam os pais a buscarem apoio psicológico para os filhos. Os pacientes, geralmente vítimas da prática, podem reagir de diferentes formas, como adquirir comportamento violento, não ter vontade de frequentar a escola ou apresentar ansiedade ou depressão.
Ah,sim. Bruna mudou de escola depois de se mostrar disposta a reagir às agressões, o que levou a escola a agir. E está muito bem, obrigada.
Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/clinica-no-recreio-oferece-terapia-de-grupo-para-criancas-adolescentes-18911556?versao=amp